Apresentação do Boletim
Em determinadas zonas da floresta amazônica, existem ainda diversos povos indígenas sem contatos sistemáticos com a sociedade ocidental. São os chamados Índios Isolados. Segundo a legislação brasileira (Lei nº 6001 de 19/12/73), são considerados índios isolados os indígenas que vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional.
Essas populações indígenas geralmente ocultam-se nas áreas mais inacessíveis da floresta. Devido a este isolamento se desconhece sua composição demográfica, língua ou costumes registrando-se apenas algumas evidências de sua existência e raros indícios de sua cultura material.
O distanciamento desses povos autônomos em relação ao nosso sistema econômico-social é fruto não apenas de fatores físico-geográficos, mas principalmente de um histórico de violentos confrontos entre tais povos e as frentes de expansão da nossa sociedade, expansão esta conseqüência da forte pressão econômica sobre todo o território amazônico e que tem ocorrido em um ritmo cada vez mais acelerado.
Por esses fatores esses povos desenvolveram estratégias de movimentação e fuga permanentes como forma de evitar conflitos, inclusive com outros povos indígenas já contatados.
A América do Sul possui dentro da sua floresta amazônica a maior concentração de povos isolados do mundo, grande parte deles concentrados ao longo dos cerca de 2.800 km de fronteiras compartilhadas entre o Brasil e o Peru.
Das 10 reservas territoriais existentes ou propostas para a proteção dos índios isolados do Peru, sete delas estão localizadas na fronteira com o Brasil, ou próximas a ela. E no Brasil, nas terras indígenas do Acre e na Terra Indígena Vale do Javari, todas fronteiriças com o Peru, se encontra a maior diversidade e a maior concentração populacional desses povos. Portanto, é na fronteira Brasil-Peru que se localiza os territórios que compõem o habitat da maior população desses povos em todo o mundo.
O Centro de Trabalho Indigenista/CTI atua junto aos povos indígenas do Brasil, com apoio da cooperação internacional, de empresas públicas e de órgãos do governo desde 1979. Na Terra Indígena Vale do Javari – AM, localizada na fronteira com o Peru, e com muitas ocorrências de índios isolados, a entidade já está atuando desde 1999, por meio de uma parceria com a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato – CGIIRC/FUNAI. Este trabalho acabou se desdobrando em um grande programa de proteção aos territórios de vários grupos isolados.
O CTI percebe que existe um grande isolamento das instituições que atuam na garantia do direito dos isolados do Brasil e Peru, mesmo que estas estejam atuando em regiões muito próximas uma das outras.
Diante dessa situação o CTI atualmente executa um projeto que visa garantir os direitos dos povos isolados da fronteira Brasil-Peru, cujo foco principal é dar início a uma maior articulação e contato entre as organizações indígenas, indigenistas, ambientalistas e de direitos humanos de ambos os países que atuam junto a esses povos isolados.
Um primeiro passo fundamental para essa articulação é ter a organização de todas as informações que circulam nas principais mídias do Brasil e Peru sobre esses povos, políticas que afetam seus direitos e demais assuntos relacionados ao tema.
Assim o CTI apresenta aqui o seu primeiro Boletim Eletrônico específico sobre os povos isolados da fronteira Brasil-Peru, com a finalidade de divulgar amplamente as notícias sobre esses povos. Esse Boletim Eletrônico contará com as principais informações divulgadas na mídia e artigos escritos por especialistas sobre esses povos fronteiriços, tendo a princípio uma periodicidade mensal.
Esperamos que ele seja um importante instrumento de fortalecimento e articulação das ações de todos aqueles que de alguma forma lutam pela garantia dos direitos desses povos.
Para conhecer as edições antigas do Boletim Povos Isolados na Fronteira Brasil-Peru clique AQUI