Os Povos Indígenas no Médio Xingu e suas Terras

A área etnográfica “Médio Xingu”, no Estado do Pará, é formada por povos indígenas pertencentes a três troncos linguísticos distintos: Tupi (povos Asuriní do Xingu, Araweté, Parakanã, Juruna, Xipaya e Kuruaya), Macro-Jê (povos Xikrin e Kararaô) e Karib (povo Arara).

Além dessa diversidade linguística e cultural, tais povos possuem historicamente diferentes experiências de interação com a sociedade nacional. O resultado mais claro desse processo heterogêneo está no fato de que atualmente parte destes povos vive em Terras Indígenas, parte vive na cidade de Altamira e parte vive no “beiradão” dos rios Xingu e Iriri. Há também a possibilidade de que alguns pequenos grupos continuem em isolamento voluntário na região do interflúvio Xingu-Bacajá e na Terra do Meio.

Situado nas proximidades das cidades de Altamira e São Félix do Xingu e da rodovia Transamazônica (BR-230), o bloco de TIs do Médio Xingu está inserido em uma área caracterizada atualmente pela intensa atividade madeireira, de mineração e agropecuária, e que, além disso, também tem sido alvo de projetos oficiais de grande porte e alto impacto ambiental, como é o caso do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) Belo Monte no rio Xingu.

Do ponto de vista ambiental, no entanto, o bloco de TIs ocupa uma posição estratégica para a conservação do vale do rio Xingu. Isso por constituir o limite norte de um imenso corredor de áreas protegidas de aproximadamente 26 milhões de hectares, formado, além do bloco de TIs do médio Xingu, pelo mosaico de Unidades de Conservação da Terra do Meio, pelo bloco de TIs Kayapó no sul do Pará e pelo Parque Indígena do Xingu, situado no norte de Mato Grosso.

MAPA. O Médio Xingu no contexto da Amazônia Legal Brasileira

A seguir são apresentadas algumas informações básicas sobre os povos Asuriní e Araweté, os quais atualmente constituem o foco das Ações Estratégicas do CTI.

 Asuriní do Xingu – Terra Indígena Koatinemo
Habitantes tradicionais do interflúvio Xingu-Bacajá, os Asuriní do Xingu são um povo de língua Tupi-Guarani. A auto-denominação do grupo é Awaeté (“gente de verdade”). Contatados no igarapé Ipiaçava em 1971, por ocasião da abertura da Rodovia Transamazônica (BR-230), os Asuriní chegaram a um mínimo popualcional de 52 pessoas em 1982. Atualmente a população gira em torno de 150 pessoas, que vivem na aldeia Koatinemo. A Terra Indígena Koatinemo encontra-se regularizada e abrange uma área de 387.834 hectares de floresta. Mais informações sobre os Asuriní podem ser encontradas no livro Asuriní do Xingu: História e Arte, da antropóloga Regina Muller.

Araweté – Terra Indígena Araweté/Igarapé Ipixuna
Tendo sido durante décadas confundidos com os Asuriní, os Araweté, segundo suas próprias tradições orais, habitavam a área onde atualmente estão situadas as cidades de Tucumã e Ourilândia do Norte, nas cabeceiras do rio Bacajá e adjacências. Devido às incursões tanto de brancos como dos povos Kayapó, os Araweté foram ao longo do século XX deslocando-se para noroeste até alcançarem o igarapé Ipixuna, afluente da margem direita do Xingu, onde encontram-se até hoje. Falantes de uma língua Tupi-Guarani, os Araweté foram contatados em 1976, também por ocasião da abertura da Transamazônica. Somam atualmente aproximadamente 350 pessoas, divididas em três aldeias (Ipixuna, Juruãti e Pakaña). A Terra Indígena Araweté/Igarapé Ipixuna também encontra-se regularizada, abrangendo uma área de 940.900 hectares de floresta.